A metáfora do cérebro trata a organização em forma de redes, grupos e sistemas de indivíduos e setores interconectados, construindo uma atividade e fluxo relacional de informações e conhecimento pela integração global.
Morgan (2006) afirma que à medida que entramos numa economia baseada no conhecimento, em que a informação, o conhecimento e o aprendizado são recursos-chave, a inspiração de um cérebro vivo, capaz de aprender, oferece uma imagem poderosa para a criação de organizações ideais, perfeitamente adaptadas aos requisitos da era digital.
Para melhor explicar a metáfora do cérebro nas organizações, o autor faz a associação com a holografia (uma técnica fotográfica que registra em três dimensões qualquer objeto). A holografia usa câmaras sem lentes para registrar informações de uma forma que guarda o todo em cada uma das partes. Um aspecto interessante que aponta é que se a placa holográfica que está gravando a informação quebrar, qualquer pedaço individual pode ser usado para reconstruir a imagem inteira. Prossegue no exemplo dizendo que “tudo está embutido em tudo o mais, como se fossemos capazes de atirar uma pedra numa lagoa e ver a lagoa toda e todas as ondas e gotas d’águas geradas pelo impacto em todas e cada uma das gotas de d’água”.
Organizações funcionando como cérebro significa dizer que a informação e o conhecimento estão distribuídos por toda a rede da organização, não existindo nenhum ponto de controle e armazenamento fixo. O armazenamento e o processamento da informação estão em muitas partes ao mesmo tempo.
Almeida (1995), fazendo uma analogia entre as organizações e o cérebro, diz que na “nova forma de organização não existe mais controle central de atividades. Cada célula é responsável e tem consciência do que deve fazer e do produto que deve gerar. Como a informação flui facilmente no interior de cada célula, para fora ou para dentro, a rede ou a cadeia como um todo tem condições de se adequar rápida e eficazmente às necessidades”. O fluxo eficaz da informação é o elemento-chave para o sucesso da nova forma de organização.
Estudos das teorias da administração incentivam as empresas para um modelo neural, no qual não existe absolutamente coordenação central, como acontece no caso de estruturas hierárquicas. Prossegue Almeida (1995) explicando que no cérebro humano não existe conjunto de neurônios responsável pela coordenação do trabalho dos outros neurônios. Cada neurônio exerce autonomamente sua função a partir dos sinais recebidos e envia sinais para os à sua frente.
Hoje, organizações policiais têm excesso de informações em vez de carências. Existe grande quantidade de conteúdos, relatórios de investigação, laudos técnicos, depoimentos, ocorrências, inquéritos, o que obriga o setor de Inteligência a realizar uma tarefa de seleção mental intensa. A Inteligência Policial dispõe de sistemas informatizados que permitem acessar uma ampla variedade de bancos de dados, acesso a um imensurável volume de informações, decorrentes de interceptações e movimentos bancários, sem considerar o vasto material informativo na Internet. Apesar de tudo isso, muitos sentem que estão mal informados.
Os analistas e investigadores freqüentemente suspeitam que o conhecimento que desejam existe em algum lugar. O que lhes falta é uma maneira de acessar o ambiente de conhecimento e identificar os tipos específicos de conhecimento, tanto interna quanto externamente. Nesse contexto, é preciso é criar uma organização em forma de rede de fluxo de conhecimento, e como o resultado deste processo, contribuir para aumentar a capacidade da investigação criminal.
Segundo Paldony e Page (1998), uma rede é uma coleção de atores que estabelecem relações de troca de longo prazo, e que ao mesmo tempo, não possuem legitimidade e autoridade para arbitrar e resolver disputas, que podem ocorrer durante a troca. Composta por diferentes atores (pessoas, organizações, empresas etc.) que interagem entre si, a rede possui interações que não se dão em momentos únicos, mas são repetidas ao longo do tempo, configurando um determinado padrão. Esses relacionamentos caracterizam trocas de informações, experiências, recursos etc., ou seja, a cada interação algo é trocado. Os agentes destas trocas mantêm um razoável grau de independência formal entre si.
Comentam que o processo de gestão de conhecimento em organizações, num ambiente em rede, tem dois objetivos:
• Disseminar e distribuir informações e o conhecimento através dos atores que compõem a rede, disponibilizando o conhecimento em todos os pontos da rede onde será utilizada para eficácia do negócio;
• Permitir um processo colaborativo e integrado para a geração de conhecimento de forma multidimensional para visão do contexto e de forma global por toda a organização.
O fluxo interativo de informações na organização é uma confirmação recíproca do estado de relação de comunicações entre pessoas, grupos e setores que geram significado e conhecimento global. Este sistema pode ser representado pela figura do texto, onde um modelo de organização policial com seus elementos de inteligência interagem como malhas de conexão num ambiente em rede, semelhante a um cérebro com suas propriedades essenciais. Cada nó de interação na rede representa uma unidade policial (neurônio) que gera informações sobre o crime e dissemina o conhecimento novo em tempo real para toda a organização (investigadores ou setores que necessitam da informação).
Para explicar as características do modelo em rede de conhecimento, a metáfora do hipertexto é considerada a fim de confirmar o modo sistêmico de processos e verificar os princípios que configuram uma associação lógica do funcionamento (LEVY, 1993):
a) Princípio de Metamorfose. A rede está em constante construção e renegociação, pois o fluxo de comunicação favorece seu constante desenvolvimento e estabilidade pela composição e permanente movimento de atores envolvidos;
b) Princípio de Heterogeneidade. Os nós e conexões da rede são heterogêneos. É composto de varias fontes de informações e conhecimentos e o nível de interação entre todos os componentes e o processo de comunicação não é uniforme;
c) Princípio de Multiplicidade. A rede se organiza de forma que qualquer conexão pode revelar-se como sendo composto por toda uma rede, e assim por diante, ao longo de uma escala maior. Em efeitos de propagação do conhecimento, gera capacidade de uma Inteligência distribuída por toda a organização;
d) Princípio de Exterioridade. A rede não possui unidade orgânica. Seu crescimento e diminuição, sua composição e recomposição dependem de fatores indeterminados. Pode haver adição de novos órgãos, interação com outras fontes de conhecimento e conexões com outras redes;
e) Princípio de Topologia. Tudo funciona por proximidade e conexão. O curso dos acontecimentos e o fluxo de conhecimento ocorrem de forma síncrona. Tudo trafega na rede em conjunto, de acordo com o processo evolutivo da rede como um todo;
f) Princípio de Mobilidade dos Centros. A rede não tem centro, ou melhor, possui permanentemente diversos centros, onde a informação e o conhecimento percorrem todos os nós, distribuindo ao redor de uma ramificação infinita de pequenas raízes. O centro está em todo o lugar da rede.
As organizações em rede são geradoras de processos cognitivos (aquelas com potencial de aprender, onde ocorrem processos constitutivos de aquisição de conhecimentos). Ela faz uma operação distribuída da informação, proporcionando uma memória que armazena informações, assimila conhecimento novo adquirido pela organização e disponível para ser recuperada e utilizada em decisões em qualquer ponto. A aprendizagem vem por consequencia, capacitando pessoas e setores a compreender e agir eficazmente com inovação de procedimentos. Na forma de conexões entre um grande número de elementos, a comunicação operacionaliza a função de executar a soma das entradas e saídas, além de executar uma conversão do conhecimento. Assim a rede se apresenta como um modelo semelhante a um cérebro e a suas interconexões, com funções de processamento do conhecimento na organização, aumentando o raciocínio (capacidade de resposta) para os problemas de ordem funcional e no ambiente em que atua.
ALMEIDA, F. C. Novo Modelo Organizacional Baseado no Cérebro Humano. Revista de Administração. São Paulo. V30, n.1, p.46-56, janeiro/março. 1995.
LEVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência: O Futuro do Pensamento na Era da Informática. Editora 34. 13ª Edição em 2004. São Paulo. 1993.
MORGAN, G. Imagens da Organização. Editora Atlas. São Paulo. 2006.
PALDONY e PAGE, 1988, Annual Review Sociology, 24, pp. 57-76, 1998. Disponível em: http://www.embsig.gpi.ufrj.br/pdfs/artigos/. Acesso em 17/10/2006.
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